Uma onda de calor é definida, pela Organização Meteorológica Mundial, como um fenómeno meteorológico em que, durante um período de pelo menos seis dias seguidos, a temperatura máxima diária é superior em 5ºC ao valor médio das máximas diárias no período de referência. É, portanto, caracterizada por temperaturas máximas persistentes e muito elevadas para a época do ano e temperaturas mínimas elevadas, durante um determinado período de tempo.
A exposição ao calor intenso constitui graves riscos para a saúde, agravando muitas vezes as condições de saúde pré-existentes, em especial se acontecer durante vários dias consecutivos, podendo obrigar a cuidados de saúde emergentes devido a problemas como: golpes de calor ou insolação, esgotamento devido ao calor, agravamento de doenças crónicas, risco de desidratação, aumento da sobrecarga cardiovascular, lesões na pele (queimaduras solares, eritemas e erupções), fadiga térmica e perturbações psicológicas como irritabilidade e mal-estar geral.
O aumento da poluição atmosférica (com aumento de concentração de contaminantes no ar) e a diminuição da quantidade e qualidade da água (o que potencia a proliferação de agentes patogénicos), decorrentes dos efeitos das ondas de calor podem ainda contribuir para o aparecimento de doenças respiratórias (como a rinite alérgica) e doenças relacionadas com o consumo de água contaminada e transmitidas por vetores de agentes que provocam doenças (mosquitos, por ex.). São situações graves que podem provocar danos irreversíveis na saúde e potencializar o aumento do número de mortes associadas ao calor intenso.
Segundo dados da World Health Organization (WHO), nas últimas décadas centenas de pessoas morreram como resultado de complicações da exposição ao calor extremo durante ondas de calor prolongadas. Este ano, já aconteceram mais de 1700 mortes relacionadas com as ondas de calor, só em Espanha e Portugal.
Neste contexto, é importante perceber quais os grupos que se encontram em maior risco de vir a desenvolver problemas relacionados com o impacto negativo do calor extremo, quais os sintomas mais frequentes e quais as medidas que devem adotar para se protegerem a si e à sua família.
Para isso seguimos as indicações da Direção Geral da Saúde (DGS) e da World Health Organization (WHO).
Grupos de risco mais vulneráveis ao calor
Existem grupos de risco que são mais vulneráveis ao calor e que precisamos de ter uma atenção redobrada. São eles:
- Pessoas idosas;
- As crianças nos primeiros anos de vida;
- Grávidas;
- Pessoas com excesso de peso ou obesas;
- Portadoras de doenças crónicas, como doenças cardiovasculares, respiratórias, renais, entre outras;
- Pessoas acamadas;
- Trabalhadores expostos ao sol e/ou calor;
- Pessoas que vivem em habitações com más condições;
- Pessoas com problemas de saúde mental.
Efeitos graves do calor intenso na saúde
O nosso corpo tenta manter uma temperatura interna constante de 37ºC, sendo que durante períodos de calor intenso é produzido suor que permite arrefecer o corpo à medida que este se evapora. Quando aumenta a humidade do ar, a capacidade de evaporação do suor diminui e quando a humidade relativa do ar atinge os 90% acaba mesmo por parar. Nesta situação, a temperatura do corpo aumenta, aumentando a produção de suor podendo levar à desidratação excessiva e com isto provocar sérios danos à saúde e mesmo à morte.
Por isso, em situações extremas de exposição ao calor intenso, especialmente durante vários dias seguidos, podem surgir problemas de saúde relacionadas com o calor, além de poder existir um agravamento das doenças crónicas, como já foi referido.
Insolação ou golpes de calor, esgotamento devido ao calor e cãibras são alguns dos exemplos que podem obrigar a cuidados médicos emergentes.
Insolação ou golpe de calor
Quando o sistema de regulação de temperatura do corpo deixa de funcionar e não consegue produzir suor para se arrefecer pode existir um aumento da temperatura corporal excessivo. Em 10-15 minutos pode atingir temperaturas de 39ºC ou mais o que pode provocar danos cerebrais e até mesmo a morte se não for feito nada.
Os sintomas de uma insolação são:
- Febre alta;
- Pele quente, vermelha, seca e sem produção de suor;
- Frequência cardíaca (pulso) rápido e forte;
- Cefaleias (dor de cabeça);
- Náuseas;
- Tonturas;
O que fazer quando estamos perante um quadro de insolação?
Perante uma pessoa com insolação devemos imediatamente pedir ajuda (chamar um médico ou ligar 112) e realizar os seguintes procedimentos:
- Transportar a pessoa para um local fresco ou com ar condicionado;
- Arejar a pessoa agitando o ar vigorosamente (com um leque ou cartão, por exemplo) ou usar uma ventoinha ou ventilador;
- Refrescar a pessoa com água (aplicar toalhas húmidas no corpo ou pulverizar com água fria);
- Dar líquidos a beber, exceto no caso de a pessoa se encontrar inconsciente;
- No caso da pessoa ficar inconsciente deve manter os procedimentos anteriores mantendo a pessoa em posição lateral de segurança (virada de lado) até chegar a ajuda;
Esgotamento devido ao calor
No esgotamento devido ao calor estamos perante uma alteração do metabolismo hidro-eletrolítico devido à perda excessiva de água e eletrólitos pelo suor. As pessoas idosas e com hipertensão arterial estão mais vulneráveis a esta situação, podendo causar graves problemas de saúde.
Os sintomas do esgotamento devido ao calor são:
- Transpiração excessiva;
- Sede intensa;
- Palidez;
- Cãibras musculares;
- Cansaço e fraqueza generalizada;
- Cefaleias (dor de cabeça);
- Náuseas e vómitos;
- Perda parcial ou total da consciência;
- Respiração rápida e superficial;
- Frequência cardíaca (pulso) alterna entre fraco e rápido (filiforme);
Neste caso a temperatura do corpo pode manter-se normal, abaixo do normal ou ligeiramente elevada, contrariamente ao que acontece no golpe de calor.
O que fazer quando estamos perante um quadro de esgotamento devido ao calor?
Perante uma pessoa com um esgotamento devido ao calor devemos imediatamente pedir ajuda (chamar um médico ou ligar 112) e realizar os seguintes procedimentos:
- Transportar a pessoa para um local fresco ou com ar condicionado;
- Arejar a pessoa agitando o ar vigorosamente (com um leque ou cartão, por exemplo) ou usar uma ventoinha ou ventilador;
- Refrescar a pessoa com água (aplicar toalhas húmidas no corpo ou pulverizar com água fria);
- Dar a beber sumos de fruta natural sem açúcar e/ou bebidas que contém eletrólitos exceto no caso de a pessoa se encontrar inconsciente;
- Deitar a pessoa e levantar-lhe as pernas;
- No caso de a pessoa ficar inconsciente deve manter os procedimentos anteriores mantendo a pessoa em posição lateral de segurança (virada de lado) até chegar a ajuda;
Cãibras por calor
Apesar de ser uma situação menos grave do que uma insolação ou esgotamento por calor, também pode existir necessidade de tratamento médico quando estamos perante uma situação de cãibras por calor, especialmente se acontecem em pessoas com problemas cardíacos ou com dietas pobres em sal.
As cãibras por calor podem surgir após uma exposição ao calor intenso, quando se transpira muito (em períodos de exercício físico intenso, por exemplo) e não existe uma hidratação adequada, com reposição de água e eletrólitos que são perdidos durante a transpiração. Ou seja, são provocadas pela perda de sal e eletrólitos.
As cãibras por calor manifestam-se através de espasmos dolorosos nas extremidades do corpo (pernas e braços) e no abdómen.
O que deve fazer neste caso?
- Deve parar o exercício físico (se for o caso) e tentar descansar num local fresco e arejado;
- Ingerir bebidas que contêm eletrólitos (bebidas para desportistas) ou sumos de fruta natural sem açúcar;
- Esticar os músculos afetados e massajar suavemente;
- Caso as cãibras persistam deve procurar ajuda médica.
Medidas recomendadas para prevenir os efeitos do calor intenso na saúde
Segundo a DGS, perante as temperaturas elevadas que persistem durante uma onda de calor devemos adotar as seguintes recomendações:
- Aumente a hidratação oral, consumindo mais água ou sumos de fruta natural, sem adição de açúcar ou adoçantes, mesmo sem ter sede;
- As pessoas idosas, doentes, bebés e crianças podem não sentir ou manifestar sede, pelo que se tornam mais vulneráveis podendo correr maior risco de desidratação. Deve permanecer atento e oferecer-lhes água várias vezes ao dia;
- Evite bebidas alcoólicas e bebidas e/ou refrigerantes com muito açúcar;
- Opte por fazer refeições mais ligeiras e frequentes e evite refeições muito pesadas e condimentadas;
- As pessoas que estejam a fazer uma dieta com restrição de líquidos, com pouco sal ou que sofram de doença crónica devem contactar com o seu médico ou a linha de saúde 24;
- Evite a exposição direta ao sol, principalmente entre as 11 e as 17 horas;
- Use sempre proteção solar quando estiver exposto ao sol. Deve usar um protetor solar com um índice de proteção elevado (igual ou superior a 30) e renovar a sua aplicação sempre que estiver exposto ao sol (de 2 em 2 horas), se estiver molhado ou se tiver transpirado.
- Os idosos devem evitar ir à praia nos dias de muito calor e as crianças com menos de 6 meses também não devem ser sujeitas a exposição solar. Crianças com menos de três anos também devem ser protegidas da exposição solar direta. As radiações solares podem provocar queimaduras na pele mesmo debaixo de um chapéu-de-sol. A água do mar e a areia também refletem os raios solares pelo que estar dentro de água não evita as queimaduras das zonas expostas.
- Quando andar ao ar livre deve usar roupa larga, leve e fresca, de preferência de algodão e, de preferência, que evitem a exposição direta da pele ao sol, em particular nas horas de maior incidência solar. Use chapéu e óculos que ofereçam proteção contra a radiação UVA e UVB;
- Deve, sempre que possível, diminuir os esforços e evitar atividades que exijam esforço físico. Repouse frequentemente em locais à sombra, frescos e arejados;
- Se está grávida deve moderar a atividade física, evitar a exposição ao sol e ingerir líquidos frequentemente;
- Se trabalhar no exterior deve hidratar-se frequentemente e proteger-se com roupa fresca e larga e chapéu. Evite trabalhar sozinho nestas condições porque, em situações de calor extremo poderá ficar confuso ou perder a consciência;
- Evite a permanência em viaturas expostas ao sol, principalmente nos períodos de maior calor. Caso o carro não tenha ar condicionado não deve fechar completamente as janelas;
- Caso tenha que viajar, leve sempre água suficiente e faça paragens frequentes para beber. Se possível deve viajar de noite;
- Tente permanecer 2 a 3 horas por dia num ambiente fresco ou com ar condicionado, tendo o cuidado de evitar mudanças bruscas de temperatura. No caso de pessoas idosas, doentes crónicos e crianças pode ajudar a evitar os efeitos nefastos do calor;
- Tome um banho de água fria ou tépida, no período de maior calor, evitando mudanças bruscas de temperatura (um banho com água gelada após um período de exposição ao sol pode causar hipotermia, principalmente em idosos ou crianças);
- Evite que o calor entre dentro das habitações. Para isso deve fechar as persianas ou portadas e manter o ar a circular dentro de casa. Ao final do dia, quando a temperatura no exterior for inferior à da habitação deve abrir as janelas de forma a arejar a habitação. Deve ter em atenção, no entanto, à exposição de pessoas mais vulneráveis a correntes de ar que podem provocar outros problemas de saúde;
- Use menos roupa na cama e tenha maior atenção no caso de bebés e doentes acamados que não têm capacidade de comunicar o desconforto provocado pelo calor;
- É importante ainda ter atenção ao estado de saúde de pessoas isoladas, idosas, frágeis ou dependentes que possam viver perto de si e ajudá-las a protegerem-se do calor.
- Não deve hesitar em pedir ajuda a um familiar ou vizinho no caso de se sentir mal com o calor. Se não tiver ninguém, deve ligar para a linha de saúde 24 (SNS 24: 808242424) e em caso de emergência ligue 112.
Tente manter-se sempre informado relativamente às previsões meteorológicas e siga as recomendações da Direção Geral da Saúde (DGS).
Bibliografia
- Serviço Nacional de Saúde (SNS). Ondas de Calor – recomendações para a população. Direção Geral da Saúde (DGS). Visitado em 19/08/2022. Disponível aqui.
- World Health Organization (WHO). Calor e Saúde. World Health Organization. 2018. Disponível aqui.