A alimentação vegetariana pode ser adequada a todas as fases do ciclo de vida, incluindo a gestação, desde que haja um planeamento cuidadoso das refeições e de preferência sob orientação de um profissional de saúde habilitado. As futuras mães vegetarianas podem ser capazes de obter todos os nutrientes que precisam de forma a garantir uma gravidez e o desenvolvimento saudável do bebé. No entanto, apesar de a alimentação vegetariana poder ser adaptada à gravidez, é necessário ter em atenção o risco de inadequação nutricional e energética que pode ocorrer, quer por excesso quer por défice.
Estudos recentes reconhecem que um padrão alimentar à base de produtos de origem vegetal durante a gravidez pode ser protetor contra o desenvolvimento de pré-eclampsia, obesidade e a alterações endócrinas. Relativamente ao desenvolvimento do feto, os estudos sugerem que não existe diferenças significativas relativamente a mães com padrão vegetariano ou omnívoro. Contudo, as crianças parecem ter um risco diminuído de desenvolver obesidade e apresentam um perfil anti-inflamatório mais favorável.
Considera-se um padrão alimentar vegetariano bem planeado o padrão que inclua diariamente um leque variado de alimentos de origem vegetal (leguminosas, cereais, produtos hortícolas, fruta, gordura vegetal, frutos oleaginosos e sementes e ervas aromáticas e especiarias) com monitorização periódica e regular de nutrientes essenciais como o ferro, iodo, zinco, cálcio e vitaminas D e B12. Desta forma, é recomendado que a grávida que segue uma alimentação vegetariana seja continuamente acompanhada por um nutricionista.
Principais recomendações para uma dieta vegetariana saudável na gravidez
- Deve garantir a ingestão de pelo menos cinco porções de fruta e hortícolas por dia e variando no seu tipo e cores;
- Os cereais como o pão, o arroz, a massa ou as batatas devem ser a base das refeições. Sempre que possível, deve optar por variedades integrais como pão escuro com grãos integrais;
- As vegetarianas estritas devem incluir boas fontes de proteína como:
- Leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico, soja e derivados como o tofu e o seitan);
- Frutos oleaginosos (avelãs, amêndoas, amendoins, cajus, nozes);
- Sementes (abóbora, linhaça, girassol e sésamo);
- Caso se trate de um padrão ovolactovegetariano deve incluir lacticínios e ovos (boas fontes de ferro, iodo, selénio e vitamina B12);
- Ao escolher as bebidas e os iogurtes de origem vegetal, deve procurar os enriquecidos com cálcio e vitamina B12. Alguns podem também ser fortificados com vitamina D. As bebidas vegetais de arroz, amêndoa, coco e aveia (muitas vezes usadas como substitutos do leite e derivados) têm um teor proteico nulo, para além de na maioria das vezes apresentarem uma elevada quantidade de açúcar e gordura. Apenas as bebidas de soja e derivados contêm um aporte de proteína semelhante aos produtos equivalentes ao leite. Recomenda-se a leitura atenta dos rótulos para uma escolha mais saudável;
- Para manter os níveis de ferro adequados, deve ser incluído na alimentação o feijão, as lentilhas, o pão integral e hortícolas de folhas verdes ao almoço ou jantar;
- Deve privilegiar o consumo de gorduras monoinsaturadas e ómega-3 (EPA e DHA). Para isso deve ser incluído na alimentação pelo menos uma pequena porção (20 g) de frutos gordos (nozes, avelã, amendoim ou amêndoas), 4 vezes/semana. Os frutos oleaginosos como as nozes e as sementes podem ser uma boa fonte ómega-3, ferro e selénio. Contudo, durante a gravidez pode ser difícil suprimir as necessidades destes elementos pelo que deve ser avaliada a necessidade de suplementação diária com 100–200 mg de DHA;
- Devem ser limitados os alimentos ultra-processados ricos em açúcar, gordura saturada e sal, mesmo que de origem vegetal;
- O consumo de algas deve ser moderado para que o consumo de iodo não seja exagerado e para minimizar a exposição a metais pesados;
- De forma a minimizar a ingestão de metais pesados, deve ser evitado o consumo de bebidas vegetais à base de arroz durante a gravidez.
- As leguminosas e cereais integrais devem ser demolhados de forma a melhorar a sua digestibilidade e aumentar a absorção de proteína;
- Devido à inexistência de fontes de vitamina B12 em alimentos de origem vegetal devem ser escolhidos alimentos fortificados com esta vitamina, como bebidas e iogurtes vegetais e/ou cereais de pequeno-almoço. Contudo, a suplementação de vitamina B12 é o método mais eficaz para atingir as necessidades diárias desta vitamina, sobretudo na grávida estritamente vegetariana. A suplementação deve sempre ocorrer mediante prescrição e vigilância do profissional de saúde
- No padrão alimentar vegetariano, a adequação nutricional de vitamina D dá-se, sobretudo pela exposição solar. O consumo de alimentos fortificados também ajuda a suprir esta vitamina;
- Uma vez que as necessidades de ferro aumentam de forma significativa durante a gravidez, a suplementação de ferro em grávidas omnívoras ou vegetarianas é aconselhado. A procura de alimentos fortificados em ferro também pode ser uma boa opção para ajudar a suprimir as necessidades do mesmo;
- As recomendações de iodo são semelhantes para mulheres omnívoras e vegetarianas: a suplementação com iodeto de potássio e a adição de sal iodado devem ser práticas diárias;
- A demolha e a boa cozedura de leguminosas e cereais integrais, o limite de ingestão de fibra e a preferência por hortícolas com baixo teor de oxalatos e fitatos são procedimentos importantes para potenciar a absorção de zinco e cálcio.
Apesar de todos os cuidados aqui referidos, é importante reforçar que a grávida com um padrão alimentar vegetariano deve ser acompanhada por um profissional de saúde (nutricionista) e deve manter uma monitorização periódica de nutrientes-chave, como ferro, iodo, zinco, cálcio e vitaminas D e B12, de forma a manter uma alimentação equilibrada, sem défices ou excessos nutricionais que possam interferir negativamente na gravidez.
Bibliografia
- Baroni, L., et al., Vegan Nutrition for Mothers and Children: Practical Tools for Healthcare Providers. Nutrients, 2018. Disponível aqui.
- Direção Geral da Saúde. Alimentação e nutrição na Gravidez. DGS. Lisboa, 2021. Disponível aqui.
- Sebastiani, G., et al., The Effects of Vegetarian and Vegan Diet during Pregnancy on the Health of Mothers and Offspring. Nutrients, 2019. Disponível aqui.