A história das vacinas remonta ao Século X (ano 1600), onde há registos em que um imperador chinês praticava a inoculação de material de pústulas, de uma pessoa doente com varíola, na pele de outras pessoas ou soprando-o nas narinas das mesmas, prática que já seria realizada há muitos séculos atrás.
Durante o final da década de 1760 Edward Jenner, um médico inglês, inocula uma criança de 8 anos com varíola bovina através do material de pústulas das mãos de uma leiteira. A criança teve uma reação ligeira, com alguns sintomas, mas recuperou ao fim de dias. Em julho do mesmo ano, o mesmo médico inocula material de pústulas de varíola humana e a mesma criança inoculada anteriormente não desenvolve qualquer sintoma.
A segunda geração de vacinas foi introduzida na década de 1880 por Louis Pasteur. Em 1879 foi criada a primeira vacina de laboratório, através de bactérias causadoras de cólera atenuadas para prevenção de cólera nas galinhas. Louis Pasteur desenvolveu desta forma a vacina contra a cólera, tendo desenvolvido também a vacina contra o antraz.
Vacinas contra a difteria, sarampo e rubéola foram introduzidas durante o século XX, sendo bem-sucedidas e sendo consideradas, no final do século XIX uma questão de prestígio nacional, tendo surgido leis de vacinação obrigatórias. O desenvolvimento da vacina contra a poliomielite e a erradicação da varíola durante os anos 1960 e 1970 foram marcos decisivos na história da vacinação global.
Antes da invenção e utilização das vacinas doenças como coqueluche, poliomielite, sarampo, Haemophilus influenzae e rubéola atingiam centenas de milhares de bebés, crianças e adultos no mundo, morrendo milhares por causa dessas doenças. À medida que as vacinas se foram desenvolvendo e utilizando em larga escala, os números dessas doenças diminuíram bruscamente até hoje, sendo que a maioria delas quase desapareceu na maior parte dos países.
Dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) relatam que quase todas as pessoas nos EUA contraíram sarampo antes de haver uma vacina e centenas morreram por causa disso a cada ano. Hoje, a maioria dos médicos nunca viu um caso de sarampo. Mais de 15.000 americanos morreram de difteria em 1921, antes que houvesse uma vacina. Apenas dois casos de difteria foram relatados ao CDC entre 2004 e 2014. Uma epidemia de rubéola, em 1964-65 infetou 12,5 milhões de americanos, matou 2.000 bebés e causou 11.000 abortos espontâneos. Desde 2012, apenas 15 casos de rubéola foram notificados ao CDC.
Contudo, a única doença que foi erradicada totalmente do planeta foi a varíola. As restantes doenças não desapareceram mas praticamente não existem graças à vacinação da população mundial. Se as taxas de vacinação diminuíssem, as doenças poderiam voltar a tornar-se tão comuns como eram antes das vacinas.
Por exemplo, se um ou dois casos de uma doença forem introduzidos numa comunidade onde a maioria das pessoas não foi vacinada, vão ocorrer surtos daquela doença. Um exemplo disso ocorreu em 1974, onde cerca de 80% das crianças japonesas estavam a ser vacinadas contra a coqueluche. Naquele ano, houve apenas 393 casos de coqueluche em todo o país e nenhuma morte relacionada. A partir daí começaram a diminuir bruscamente as taxas de imunização até que apenas cerca de 10% das crianças estavam a ser vacinadas. Em 1979, mais de 13.000 pessoas contraíram coqueluche e 41 morreram. Quando a vacinação de rotina foi retomada, os números da doença diminuíram novamente.
Neste momento a Europa atravessa um surto de casos de sarampo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) foram registados 89.994 casos de sarampo em 48 países europeus no primeiro semestre de 2019, mais do dobro do mesmo período do ano passado (44.175) e mais do que em todo o ano de 2018 (84.462). No Reino Unido foram notificados 953 casos em 2018 (489 desde 01 de janeiro de 2019), enquanto 2.193 foram relatados na Grécia, 1.466 na Albânia, e 217 na República Checa. Na Europa, a maioria das pessoas infetadas tem menos de 19 anos (60% dos casos).
No primeiro semestre de 2019, 78% dos casos foram registados em quatro surtos de contágio: Cazaquistão, Geórgia, Rússia e Ucrânia, que por si só representam 60% dos casos. Até 2020, o sarampo era considerado uma doença endémica em 12 países, incluindo França e Alemanha, onde a vacinação não era obrigatória.
Não existe cura para o sarampo, mas esta doença pode ser evitada com duas doses de uma vacina.
Portugal alcançou o estatuto de eliminação do Sarampo e da Rubéola em 2017, de acordo com a avaliação efetuada pela Comissão Regional de Verificação da Eliminação do Sarampo e da Rubéola da Região Europeia da OMS, graças a uma presença de elevadas coberturas vacinais contra o sarampo e a rubéola e uma resposta eficaz dos serviços de saúde. Contudo, na sequência do crescente número de casos de sarampo registados na Região Europeia, o sarampo reapareceu em Portugal em fevereiro de 2017, levando a dois surtos com um total de 27 casos confirmados.
No entanto, a forte aposta no Programa Nacional de Eliminação do Sarampo e no Programa Nacional de Vacinação coordenados pela DGS e a articulação com os serviços de saúde foram essenciais para o rápido controlo dos surtos ocorridos em Portugal em 2017 e fundamentais para a manutenção do estatuto de eliminação do sarampo e da rubéola. Em 2018, até à data foram confirmados 114 casos de sarampo em Portugal (três surtos e dois casos isolados), todos associados à importação da doença.
Considera-se o reaparecimento do sarampo em todo o mundo devido ao escasso acesso aos cuidados de saúde e ao aumento crescente da desconfiança relativamente às vacinas. Nos países ocidentais têm surgido cada vez mais movimentos “antivacinais”, que afirmam existir uma ligação entre as vacinas e outras consequências graves para a saúde. O exemplo mais conhecido é a ligação entre a vacina do sarampo e o autismo, ligação essa que surgiu de um estudo falsificado que já foi desmentido pela OMS. A resistência à vacinação foi classificada pela Organização Mundial da Saúde como uma das dez maiores ameaças à saúde global neste 2019
A vacinação é uma ferramenta poderosa e uma das formas mais eficazes e menos dispendiosas de prevenir doenças infeciosas. Esta forma de imunização ativa está cientificamente provada e impede entre duas e três milhões de mortes anuais relacionadas com doenças como o sarampo, a tosse convulsa ou tétano neonatal, segundo dados da OMS.