A menstruação é um processo fisiológico, natural e é um tema que deverá ser encarado sem vergonha e sem tabus. Ainda é comum ser associado a crenças culturais e religiosas em países em desenvolvimento como a Índia, por exemplo. Os tabus associados à menstruação ainda impõem restrições a algumas mulheres que, durante este período, permanecem isoladas em casa, não tomam banho e são consideradas “impuras” em algumas culturas.
No entanto, mesmo quando os tabus não são um problema, a menstruação pode ter um impacto adverso na vida das mulheres. Os diferentes materiais de proteção menstrual podem ter impactos diretos ou indiretos na sociedade e ambiente. Tanto pelos custos ao adquiri-los e a praticabilidade de utilização como pelo impacto ambiental aquando o descarte dos materiais, como os pensos e tampões, por exemplo. Além disso existe a procura de algo que seja prático e que permita fazer uma vida perfeitamente normal mesmo estando menstruada.
Produtos menstruais de fácil utilização, reutilizáveis e económicos são procurados cada vez mais pela sociedade e apesar de já terem sido inventados há mais de um século só nos dias que correm é que começam a surgir como uma alternativa viável a todos os outros produtos disponíveis no mercado.
O copo menstrual, conhecido também como coletor menstrual, é um copo pequeno e flexível em forma de funil feito de silicone medicinal que é inserido na vagina para recolher/coletar o fluido menstrual, em vez de o absorver. Este dispositivo é considerado uma alternativa favorável à saúde e ao meio ambiente. É fabricado com silicone antialérgico e não tóxico tornando-se absolutamente inerte e macio o que diminui a probabilidade de infeções, alergias, erupções cutâneas e escoriações e como é usado internamente, no canal vaginal, elimina o mau cheiro e a sensação de humidade.
Também pode ser usado por cerca de 12 horas, dependendo da quantidade do fluxo menstrual (o útero produz, em média, 30 a 80 mililitros de menstruação a cada ciclo), devido à sua grande capacidade coletora (30 a 60 ml) e a sua adaptabilidade ao corpo. É muito fácil de manusear e quando bem colocado permite uma maior liberdade de movimento não sentindo sequer que o está a usar.
É um dispositivo reutilizável que pode durar entre 3 a 10 anos, se for usado com cuidado. É fácil de limpar, armazenar e transportar. Este pode e deve ser esterilizado antes e após o uso promovendo uma utilização higiênica e segura.
Informação baseada em evidência científica através de estudos clínicos comprovam os benefícios da utilização dos copos menstruais. Uma revisão de literatura realizada em 2019 revela que cerca de 70% dos participantes de 13 estudos que usaram o copo menstrual declararam querer continuar o seu uso.
Foram identificados alguns relatos de casos acidentais de danos vaginais, síndrome do choque tóxico ou queixas do trato urinário após o uso do copo menstrual, e também foi relatada alguma dificuldade em removê-lo. Nos EUA, a incidência de todos os tipos de síndrome do choque tóxico foi de cerca de 0,8-3,4 por 100.000 habitantes, enquanto que a síndrome do choque tóxico menstrual foi relatada em 6-12 por 100.000 utilizadoras de tampões de alta absorção em 1980. O risco relatado de choque tóxico síndrome com o uso de copo menstrual parece baixa, com cinco casos identificados na nossa pesquisa na literatura.
Nos estudos que examinaram a vagina e o colo do útero durante o estudo, não ocorreu nenhum dano mecânico com o uso do copo menstrual. O risco de infeção não pareceu aumentar e, em comparação com absorventes e tampões, alguns estudos indicaram uma diminuição do risco de infeção.
Um estudo no Quênia detetou menos casos de vaginose bacteriana em utilizadoras de copo menstrual do que naquelas que usaram absorventes higiénicos referindo que o material do copo menstrual pode ajudar a manter um pH vaginal e flora microbiana saudáveis. A dor relatada pode estar relacionada a variações na anatomia pélvica ou ao posicionamento incorreto do copo menstrual, levando à pressão interna.
Um dos estudos realizados durante 3 meses, em 2017, com uma amostra de 158 mulheres da Índia revela que mais de 80% das participantes acharam o copo menstrual fácil de introduzir com aumento do conforto no segundo e terceiro ciclo principalmente devido à experiência anterior e 90% acharam fácil de remover. A dificuldade de remoção referida pelas participantes foi devido a menstruações escassas, secura vaginal e desconforto pelo contato com o fluido menstrual. Houve um problema mínimo de fuga que consideraram o equivalente à fuga existente quando usavam o método anterior (tampões e pensos).
Outro relatório recente descreve a aceitabilidade de um copo menstrual entre adolescentes meninas em idade escolar no Nepal. Este estudo relata a rápida adoção do uso de copos, com 60% usando copos aos 6 meses e continuando o uso durante todo o estudo e um estudo do Zimbábue relatou que todas as mulheres pesquisadas (n = 43) definitivamente experimentariam um copo menstrual, e 86% relataram que usá-lo faria diferença em suas vidas.
Relativamente à combinação do uso do copo menstrual e a utilização de um DIU (Dispositivo intrauterino) ainda existe pouca informação pelo que existe necessidade de estudos adicionais pois o uso de copos menstruais foi relatado, em algumas situações, como um possível fator para o deslocamento do DIU.
Em todos os estudos, a maioria dos participantes não encontrou nenhum problema em realizar a limpeza do copo. Os que encontraram dificuldade foi devido à indisponibilidade de instalações sanitárias e privacidade. Os problemas de erupções cutâneas, secura, infeção e alergia foram mínimos e tratados de forma adequada. O copo menstrual foi aceite pela maioria das utilizadoras que referiram vantagens como o conforto, a facilidade de uso e eficácia na colheita do fluxo menstrual, permitindo ainda fazer uma avaliação quantitativa da perda de sangue menstrual. As vantagens citadas incluem conveniência geral, portabilidade e fácil armazenamento, tempo de uso prolongado e maior liberdade de movimento. De um modo geral, as mulheres preferiam o copo a seu método atual de controle menstrual.
Claramente, a principal barreira para a aceitação do copo menstrual é a exigência de que o copo menstrual seja manipulado para dentro e para fora do canal vaginal, sendo necessária o contacto com os tecidos genitais e o fluido menstrual. Esse problema pode ser contornado com o devido aconselhamento das utilizadoras quanto ao seu uso.
Desta forma podemos considerar o copo menstrual como uma alternativa favorável à saúde e ao meio ambiente. Podemos também esperar que o aumento da consciencialização global sobre as questões de saúde da mulher e esforços na literacia em saúde desmistifique determinados mitos e tabus acerca da menstruação e permita que se aborde este tema com a naturalidade que ele impõe.