Quando dizemos que uma pessoa apresenta risco de Doença Cardiovascular (DCV) referimo-nos à probabilidade que essa pessoa tem de vir a sofrer de uma doença cardiovascular no futuro. Esse risco vai depender de vários fatores. Esses fatores, designados como Fatores de Risco Cardiovascular (FRCV) são condições que, ao existirem num determinado indivíduo, aumentam a probabilidade de aparecimento de uma doença cardiovascular contribuindo para o seu desenvolvimento. Os FRCV podem ser classificados em dois tipos: os modificáveis e os não modificáveis.
Os FRCV não modificáveis, dizem respeito ao género, idade e ao património genético de indivíduos, com história pessoal e familiar de Doença Cardiovascular (DCV). Estes fatores não são passíveis de intervenção, daí a designação de não modificáveis.
Os FRCV modificáveis são passíveis de intervenção podendo ser prevenidos e corrigidos, adotando um estilo de vida mais saudável. Estes podem ser biológicos, como a Hipertensão Arterial (HTA), a Diabetes Mellitus (DM) , a Dislipidemia (colesterol elevado – hipercolesterolemia e triglicerídeos elevados – hipertrigliceridemia) e a Pré-obesidade/Obesidade, estando maioritariamente associados a estilos de vida menos saudáveis, como alimentação inadequada e o sedentarismo e/ou baixo nível de atividade física. O consumo de tabaco e o consumo excessivo de álcool também entram no grupo de fatores de risco, associados a comportamentos prejudiciais à saúde. O rendimento, a educação, profissão e condições de vida também podem causar impacto nestes fatores de risco podendo promover o seu aparecimento.
É de salientar que estes fatores interagem entre si e potenciam-se, tendo a sua associação um efeito sinérgico, aumentando de forma considerável o risco de doenças cardiovasculares.
Em 2019, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge divulgou o relatório de um estudo realizado entre 2012 e 2014 pela Unidade de Investigação e Desenvolvimento do Departamento de Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças não Transmissíveis, sobre a prevalência de fatores de risco cardiovascular na população portuguesa. Esse relatório apresenta o perfil de risco cardiovascular da população portuguesa e estabeleceu a prevalência dos principais fatores de risco de doenças cérebro e cardiovasculares. Avaliou ainda a perceção das pessoas relativamente ao seu estado de saúde e/ou doença, tratamento e controlo de determinadas patologias (DM, Hipercolesterolemia, Hipertrigliceridemia e HTA).
O estudo, que avaliou uma amostra de 1.688 pessoas através de um exame físico, análises clínicas e um questionário indica ainda que, apesar de se ter verificado um decréscimo na prevalência destes fatores de risco nos últimos anos, as doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte em Portugal e a esperança de vida saudável aos 65 anos de idade é inferior à média europeia.
Retiraram-se diversos resultados e conclusões do estudo:
Cerca de 68% da população portuguesa apresentava dois ou mais FRCV e 22% da população quatro ou mais FRCV, tendo sido considerados apenas os de maior relevância (diabetes, hipercolesterolemia, Hipertensão arterial, pré-obesidade/obesidade e tabagismo). Destes, 62,1% apresentavam pré-obesidade/obesidade, sendo que 71,3% da População portuguesa apresentava uma alimentação inadequada e 29,2% tinham um baixo nível de atividade física. 43,1% da população apresentava hipertensão arterial, 31,5% colesterol superior ou igual a 160mg/dl e 51,1% superior a 130mg/dl, 25,4% apresentavam hábitos tabágicos, 18,8% de abuso de álcool e 8,9% apresentavam diabetes. A história familiar de DCV prematura contribuiu com 11,8% e a hipertrigliceridemia com 8,6% (≥ 200 mg/dL) e 18,6% (>150 mg/dL).
Além de se ter verificado prevalências dos fatores de riscos elevadas verificou-se ainda que existia um baixo índice de controlo dos mesmos, principalmente relativamente à hipertensão arterial e diabetes.
Segundo a Fundação Portuguesa de Cardiologia os 5 principais fatores de risco associados a uma prevalência de cerca de 80% das doenças cardíacas isquémicas do coração são: a hipertensão arterial, a obesidade, o tabagismo, o colesterol e a inatividade física. Todos estes fatores podem ser modificáveis, quer por medicação, quer por alteração de hábitos e de comportamentos.
Neste contexto, verifica-se a importância da promoção de medidas de estilo de vida mais saudáveis e de aumentar a literacia em saúde da população. Igualmente importante é o desenvolvimento de estratégias para aumentarem os rastreios dos fatores de risco cardiovascular às populações.
É, neste sentido, importante consultar regularmente o médico e enfermeiro de família, de forma a que seja feita uma avaliação do risco cardiovascular global e seja estabelecido um plano de intervenções individualizado que promova o controlo de todos os fatores de risco modificáveis, porque quanto mais precoce for o diagnóstico maiores são as possibilidades de impedir o aparecimento ou o agravamento de doenças cardiovasculares.