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Obesidade – Pandemia global

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Obesidade – Pandemia global
29 de abril de 2022 Em: Patologias Saúde

Associada ao risco de inúmeras doenças, a obesidade é um dos principais problemas de saúde pública mundial. A inúmera oferta de comidas rápidas, fáceis de comer, viciantes e supostamente mais económicas tem vindo a aumentar nos últimos anos, com várias cadeias de restauração de “fast food”, ou a chamada comida de plástico, a aparecer em todos os cantos, estimulando o consumo destes alimentos.

Além disso, e mais preocupante ainda, entra o marketing dos alimentos considerados “saudáveis”. Alimentos que são promovidos como o sucesso para uma alimentação saudável e a rápida perda de peso, mas que quando olhamos com calma para a lista de ingredientes e informação nutricional, verificamos que estão carregados de açúcar e/ou gorduras saturadas, o que é tudo menos saudável.

O comodismo, facilitismo e a reduzida literacia em saúde das populações fomenta a aquisição de comportamentos menos saudáveis e o consumo deste tipo de alimentos, levando ao aumento da prevalência das taxas de obesidade e um consequente aumento de doenças associadas e do número de mortes por causas relacionadas ao excesso de peso.

O que é a Obesidade?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade é definida como um “acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal que pode atingir graus capazes de afetar a saúde. É uma doença crónica, de origem multifatorial e está associada a doenças crónico-degenerativas.”

A Obesidade ou excesso de peso pode ser “medida” através do índice de massa corporal (IMC). O IMC fornece a medida mais útil de excesso de peso e obesidade. O índice é o mesmo para ambos os géneros e para todas as idades dos adultos (entre os 18 e os 65 anos). No entanto, deve ser considerado um guia aproximado porque pode não corresponder ao mesmo grau de gordura em indivíduos diferentes.

Para adultos, a OMS define excesso de peso e obesidade quando um indivíduo apresenta um Índice de Massa Corporal maior ou igual a 25 (excesso de peso) e quando apresenta um IMC maior ou igual a 30 (obesidade). Para crianças, são utilizadas escalas próprias (padrões de crescimento infantil da OMS), que relacionam o género, idade, peso e a altura.

Crianças com menos de 5 anos são consideradas com excesso de peso quando a relação entre o peso e a altura é maior que 2 desvios-padrão acima da mediana dos padrões de crescimento infantil da OMS, e consideradas com obesidade quando essa relação é maior do que 3 desvios-padrão acima da mediana dos padrões de crescimento infantil da OMS.

Crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 18 anos são consideradas com excesso de peso quando o IMC para a idade é maior do que 1 desvio padrão e com obesidade quando é maior do que 2 desvios padrão acima da mediana dos padrões de crescimento infantil da OMS.

Causas do excesso de peso e da obesidade

A causa fundamental do excesso de peso e obesidade não é mais do que um desequilíbrio energético entre as calorias consumidas e as calorias gastas. Ou seja, quando existe um consumo de calorias superior ao que o indivíduo necessita, este vai inevitavelmente engordar.

Os estilos de vida, como uma alimentação inadequada, com um aumento da ingestão de alimentos densos em energia (calorias), ricos em gordura e açúcares e a inatividade física e sedentarismo são fatores que influenciam a prevalência desta doença a nível mundial.

Consequências do excesso de peso e da obesidade para a saúde

São inúmeras, as consequências do excesso de peso e obesidade para a saúde. O índice de massa corporal elevado é um importante fator de risco para as doenças não transmissíveis como: as doenças cardiovasculares (doenças coronárias e cerebrais), respiratórias (insuficiência respiratória e apneia obstrutiva do sono), endócrinas (diabetes tipo 2, alteração das hormonas reprodutivas e da fertilidade), distúrbios músculo-esqueléticos (osteoartrite) e algumas neoplasias (endométrio, mama, ovário, próstata, fígado, vesícula biliar, rim e intestino). A obesidade aumenta ainda o risco de desenvolver hipertensão arterial, dislipidemias, doenças da vesícula biliar, anomalias fetais, lombalgias e síndrome do ovário poliquístico. Aumenta ainda o risco anestésico caso haja necessidade de realização de cirurgia com anestesia geral. O risco para todas essas doenças aumenta com o aumento do IMC.

A obesidade infantil está associada a maior probabilidade de obesidade na fase adulta, de morte prematura e incapacidade na vida adulta. Além dos riscos futuros, as crianças obesas apresentam problemas respiratórios, hipertensão, aumento do risco de fraturas, resistência à insulina, marcadores precoces de doenças cardiovasculares e problemas psicológicos relacionados com autoestima e bullying .

Dados estatísticos relativos à obesidade

Segundo dados da OMS, desde 1975 que a obesidade tem vindo a aumentar a nível mundial, tendo quase que triplicado. Em 2016 mais de 1,9 biliões de adultos, com 18 anos ou mais, apresentavam excesso de peso (39%), sendo que mais de 650 milhões eram obesos (13%). Em 2019, cerca de 38 milhões de crianças menores de 5 anos apresentavam excesso de peso ou obesidade. Em 2016, mais de 340 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 19 anos apresentavam excesso de peso ou já eram consideradas obesas.

A maioria da população mundial vive em países onde o excesso de peso e a obesidade matam mais pessoas do que o baixo peso, diz a OMS.

Em Portugal, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), recolhidos através do inquérito nacional de saúde relativos a 2019, mais de metade da população adulta apresenta excesso de peso ou obesidade. Segundo o relatório, mais de metade da população com 18 ou mais anos (53,6%) tinha excesso de peso ou obesidade, apresentando um índice de massa corporal (IMC) de 25 ou mais kg/m2. A obesidade, considerada com valores de IMC 30 kg/m2, atingia 1,5 milhões de pessoas com 18 ou mais anos (16,9%), sendo as mulheres mais afetadas que os homens (17,4% e 16,4%, respetivamente). A população dos 55 aos 74 anos, era a que apresentava maiores valores de excesso de peso, com valores superiores a 20%.

Em relação a 2014 observou-se um aumento de 0,8 pontos percentuais na proporção de adultos com excesso de peso ou obesidade, principalmente nos homens, nos grupos etários mais jovens (dos 18 aos 34 anos) e nos mais idosos (85 ou mais anos).

O mesmo inquérito do INE, relativo a 2019, em Portugal, revela que a maioria da população com 15 ou mais anos não praticava qualquer atividade desportiva de forma regular (65,6%), sendo que 13,6% das pessoas referiram praticar exercício físico em um ou dois dias por semana. Para 34,0% da população, a prática semanal de exercício era inferior a duas horas. O exercício físico constituía uma prática diária para 3,7% da população. Os resultados “indicaram ainda um aumento significativo da população com 15 ou mais anos que desempenhava as suas tarefas diárias sentadas ou em pé, em atividades que envolviam um esforço físico ligeiro, para mais de metade da população (de 47,0% em 2014 para 50,7% em 2019)”. Cerca de 1/4 da população referiu passar mais de oito horas por dia sentada, incluindo o tempo que passa no trabalho, nas deslocações e em casa.

Além das taxas elevadas de inatividade física, o inquérito apurou ainda que menos de metade da população consumia legumes ou saladas diariamente (41,7%), sendo o seu consumo mais elevado na população dos 55 aos 74 anos (46,0%) e apenas 33,7% dos jovens dos 15 aos 24 anos consumiam diariamente legumes ou saladas. A proporção de pessoas com 15 ou mais anos que consumiam legumes ou saladas menos do que uma vez por semana era de 6,3% e a de pessoas que nunca o faziam representavam 1,9% Cerca 66,4% de pessoas com 15 ou mais anos revelaram que consumiam fruta diariamente (excluindo sumos de fruta), em média, 2,3 porções. O consumo diário de fruta era, no entanto, menos frequente entre as pessoas dos 15 aos 24 anos e mais frequente a partir dos 45 anos. Por outro lado, 5,4% da população em análise consumia fruta menos do que uma vez por semana e 2,3% indicou nunca o fazer.

Estratégias de prevenção da obesidade

O inquérito anterior vem demonstrar que existe necessidade de reforçar a importância de um estilo de vida mais saudável, como a adoção de uma alimentação saudável e de um aumento da prática de atividade física.

Além disso é importante a criação e manutenção de programas de intervenção que ajudem a moldar a mentalidade da população, aumentando a literacia em saúde, de forma a que consigam tomar melhores decisões a nível de alimentação e da prática de atividade física regular.

O envolvimento com a indústria alimentar revela-se também, uma parte fundamental na promoção de dietas saudáveis podendo desempenhar um papel significativo na prevenção da obesidade e da promoção da saúde. Reduzir o teor de sal, açúcar e gordura dos alimentos processados, garantir que escolhas saudáveis e nutritivas estejam disponíveis e acessíveis a todos os consumidores, restringir a comercialização de alimentos com alto teor de gorduras, açúcar e sal, principalmente aqueles destinados a crianças e adolescentes são apenas algumas das estratégias que podem ser definidas para ajudar no controlo das doenças relacionadas com a má alimentação como a obesidade. É importante também que os locais de trabalho garantam e disponibilizem escolhas alimentares mais saudáveis e que apoiem a prática regular de atividade física.

Por fim, e não menos importante, apostar mais nos cuidados de saúde primários, na educação para a saúde, na saúde escolar e na criação de atividades que permitam aumentar a literacia em saúde nas comunidades é uma das bases para que os programas nesta área funcionem.

Bibliografia

  1. Afshin A, Mohammad SD, Forouzanfar H, Retsma B, Patrick BS, Estep, K, et al. Global Burden of Disease. Health Effects of Overweight and Obesity in 195 Countries over 25 Years. Global Burder of Disease. 2015. Published in The New England Journal of Medicine, vol. 377, July 6, 2017. Disponível aqui.
  2. Camolas,J, Gregório M., Sousa SM, Graça P. Obesidade: Otimização da abordagem terapêutica no Serviço Nacional de Saúde 2017. Lisboa: Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. Direção Geral da Saúde; 2017. Disponível aqui.
  3. Instituto Nacional de Estatística (INE). Inquérito Nacional de Saúde 2019. Instituto Nacional de Estatística (INE). 2019. Disponível aqui.
  4. World Health Organization. Obesity and overweight. WHO. 2020. Disponível aqui.
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