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Período fértil e ovulação. Quais os sintomas e como calcular?

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Período fértil e ovulação. Quais os sintomas e como calcular?
27 de janeiro de 2022 Em: Saúde Saúde Reprodutiva e da Mulher

Para quem deseja engravidar, conhecer o período fértil é uma ferramenta útil. Conhecer o ciclo menstrual e as mudanças que acontecem no corpo da mulher durante o ciclo é muito importante, não só para quem planeia engravidar, mas para aprender mais sobre si próprio e como funciona o seu organismo, percebendo desta forma se existe ou não algum problema de saúde relacionado com o aparelho endócrino e/ou reprodutor.

O que é o Período Fértil?

É chamado de período fértil o intervalo de tempo, no ciclo menstrual, em que as mulheres em idade reprodutiva, têm maior probabilidade de engravidar. Este intervalo de tempo pode variar de mulher para mulher e de ciclo para ciclo.

Cerca de cinco a sete dias após o primeiro dia da menstruação, um dos vários folículos que existem nos ovários vai amadurecer e tornar-se dominante produzindo o óvulo que vai ser libertado durante a ovulação. Na ovulação o óvulo é libertado e vai seguir na direção das trompas de Falópio até chegar ao útero, numa viagem que dura cerca de 24 a 36 horas. Tendo em conta que o óvulo só tem a semivida de 24 a 36 horas é nesse percurso que pode acontecer a fecundação ((quando o espermatozoide (gâmeta masculino) se funde com o óvulo (gâmeta feminino)).

Contudo, os espermatozoides podem permanecer vivos no útero e trompas de Falópio por cerca de 48 a 72 horas, após a relação sexual desprotegida. Isso significa que o óvulo pode ser fecundado sem que haja relações sexuais no dia da ovulação. Assim sendo, a mulher poderá engravidar se tiver uma relação 48 a 72 horas antes da ovulação e até 36 horas depois, considerando então, o período fértil desde 3 dias antes até 3 dias depois da data provável da ovulação. Este é o seu período fértil ou também chamada de janela de fertilidade.

É difícil determinar exatamente o dia fértil, pois embora se saiba que a ovulação ocorre cerca de 13 a 15 dias antes da próxima menstruação, os ciclos podem variar entre 21 e até 35 dias.

Como calcular o Período Fértil?

Um dos métodos de deteção do período fértil é através do calendário. Durante pelo menos 6 meses, deve-se marcar num calendário o primeiro dia de cada menstruação. Esse dia marca o início de um novo ciclo. O ciclo termina no dia anterior ao primeiro dia da menstruação. Desta forma é possível calcular quantos dias dura cada ciclo.

O dia provável da ovulação calcula-se subtraindo 14 dias à duração do ciclo menstrual. Assim, se uma mulher tiver ciclos de 28 dias (contados desde o 1.º dia da menstruação até ao início da menstruação seguinte), a data provável da ovulação será: 28-14=14. Significa que deverá ovular ao 14.º dia do ciclo (14 dias a contar do 1.º dia da menstruação), sendo o seu período fértil entre o 11.º e o 17.º dia do ciclo (3 dias antes até 3 dias depois da data provável da ovulação).

Existem muitas aplicações online que conseguem calcular de forma automática, através do calendário e do registo dos dias de menstruação das mulheres, essa janela de fertilidade. No entanto, e tal como revelam alguns estudos realizados recentemente o cálculo do período fértil não é assim tão linear.

Um estudo publicado em 2019, realizado com dados de 600.000 ciclos menstruais de 124.648 mulheres da Suécia, EUA e Reino Unido mostrou os ciclos menstruais variam consideravelmente, sendo que apenas 13% das mulheres tiveram ciclos que duraram 28 dias. Estes dados foram retirados de uma aplicação de registo de ciclos menstruais e analisaram as características do ciclo menstrual e associações com a idade, IMC e temperatura corporal. Os resultados mostraram que a duração média do ciclo é de 29,3 dias. 65% das mulheres tiveram ciclos que duraram entre 25 e 30 dias, sendo que apenas 13% tiveram a duração de 28 dias.

Os Investigadores descobriram que existem diferenças na duração da fase folicular (pré-ovulação) e da fase lútea (pós-ovulação) sendo que a média da duração da fase folicular foi de 16,9 dias e a duração média da fase lútea foi de 12,4 dias. A duração média do ciclo diminuiu 0,18 dias e a duração média da fase folicular diminuiu 0,19 dias por ano de idade de 25 a 45 anos, o que demonstra que a duração do ciclo diminui com a idade. A variação média da duração do ciclo para mulheres obesas foi de 0,4 dias ou 14% maior, revelando que as mulheres com um IMC mais elevado relatam uma maior irregularidade dos ciclos menstruais. A variabilidade da duração do ciclo foi observada em menor grau em mulheres não obesas e com baixo peso.

Este estudo veio demonstrar que poucas mulheres têm um ciclo menstrual de “livro” de 28 dias, sendo que algumas apresentam ciclos muito curtos ou muito longos. Desta forma foi também demonstrado que a ovulação não ocorre de forma consistente no dia 14, dadas as variações na duração da fase folicular e fase lútea, portanto, é importante para quem planeia engravidar ter relações sexuais durante os seus dias férteis, não se focando só no dia da ovulação.

Percebemos desta forma que o método do calendário não é completamente eficaz, principalmente quando a mulher apresenta ciclos irregulares por isso é importante prestar atenção a outros sinais e sintomas que a mulher apresenta durante o seu ciclo menstrual e que poderá levantar suspeita de que está na sua janela de fertilidade.

Quais são os sinais e sintomas característicos do período fértil e da ovulação?

Existem algumas mudanças no organismo da mulher, despoletadas pelas hormonas como o estrogénio e progesterona, que são características do período fértil. São elas:

  • O aumento da produção de muco transparente elástico: Na fase pré-ovulatória imediata e na ovulação, o corrimento vaginal torna-se translúcido, inodoro e muito elástico, tipo “clara de ovo”. Estas características facilitam a progressão dos espermatozoides até às trompas de Falópio. Muco transparente, porém, sem elasticidade, fino e quebradiço, indica que a mulher está próxima do seu período de máxima fertilidade. Muco branco, semelhante a creme hidratante, indica período não fértil;
  • Aumento da líbido: Fisiologicamente o organismo está pronto para fecundar. Por isso, é natural que a mulher tenha mais vontade de ter relações sexuais nesse período. Existe ainda um aumento da produção de feromonas, substâncias químicas que são exaladas pelo corpo com a finalidade de atrair e excitar o sexo oposto. A mulher fica mais sensível, com o olfato mais apurado;
  • Dor pélvica: O aumento do folículo e a libertação do óvulo pode provocar alguma irritação peritoneal que pode ser percebida pela mulher como uma dor pélvica, geralmente ligeira. Esta dor pode ser sentida do lado direito ou do lado esquerdo dependendo de qual ovário ovulou. Pontualmente quando a dor acontece no lado direito pode imitar uma dor semelhante à apendicite. Contudo, geralmente a dor é ligeira e dura de algumas horas até no máximo uma semana. Mais do que isso deve descartar-se outro tipo de complicação;
  • Pode existir uma pequena perda de sangue, devido às mudanças hormonais bruscas que acontecem nesta fase e um aumento do tamanho e da sensibilidade mamária;
  • Logo após a ovulação existe também um aumento de cerca de 0,5 °C na temperatura corporal basal, estimando-se que a ovulação em si ocorra no dia da última baixa temperatura antes do aumento. Isto deve-se ao aumento da produção de progesterona secretada pelo corpo-lúteo. Esta hormona tem um efeito termogénico o que causa um aumento da temperatura basal.

Estes sinais podem ser muito discretos por isso a mulher tem que os saber identificar, caso contrário passaram facilmente despercebidos.

Essas características podem ajudar a mulher a conhecer o próprio corpo e a preparar-se para uma possível gravidez. No entanto, essas características variam de mulher para mulher e de ciclo para ciclo. Até porque existem ciclos em que não existe ovulação (ciclos anovulatórios), o que é perfeitamente normal e os sinais podem nem surgir. Estas características não devem ser consideradas para quem quer evitar a gravidez.

Outras formas de controlo da ovulação

Existe ainda duas formas de detetar uma possível ovulação:

  • Testes de Ovulação: Estes testes garantem a identificação do dia da ovulação através da deteção da hormona LH que é responsável por desencadear a rotura do folículo que irá libertar o óvulo. O início da onda é aproximadamente 28-48 h antes da rutura do folículo e os níveis de pico de LH são atingidos 12 h antes da rutura do folículo. Níveis elevados de LH são detetáveis ​​em amostras de sangue e urina, sendo que os testes vendidos no mercado são realizados através da urina;
  • Ecografia endovaginal: Este exame é mais usado em mulheres com dificuldade em engravidar e que poderão estar a usar indutores de ovulação. É um procedimento mais invasivo realizado por ginecologistas que, através da introdução de uma sonda de ecografia na vagina, conseguem visualizar os folículos ovarianos e conseguem detetar uma possível ovulação ou estabelecer uma data provável para a libertação do folículo.

Depois de todos estes dados e de não existirem certezas acerca da data certa da ovulação é essencial que a mulher esteja atenta ao seu corpo para tentar identificar sinais do período fértil e tenha relações sexuais frequentes durante esse período.

Mas mais importante ainda, deverá manter-se o mais saudável possível, mantendo uma alimentação equilibrada e a prática de atividade física. E depois disso tudo, descanse, relaxe e divirta-se durante as tentativas de ter um futuro bebé.

Bibliografia

  1. Bull J, Rowland S, Scherwitzl E, et al. Real-world menstrual cycle characteristics of more than 600,000 menstrual cycles. npj Digital Medicine, 2019. Disponível aqui.
  2. Encina L, Lora J. A janela da fertilidade e marcadores biológicos: revisão e análise em ciclos ovulatórios normais. Pers. Bioét. Vol. 15. Nº 2. 2011. ISSN 0123-3122. Disponível aqui.
  3. Santos M. Método Billings para Controle da Ovulação – Uma Revisão da Literatura. Faculdade Araguaia Ciências Biológicas. Goiânia. 2017. Disponível aqui.
  4. The American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG). Getting Pregnant. Disponível aqui.  

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