O Acidente Vascular Cerebral (AVC) continua a ser uma das principais causas de morte no mundo, sendo também a principal causa de morbilidade e de potenciais anos de vida perdidos.
Nos Estados Unidos, em 2018, uma em cada seis mortes por doença cardiovascular foi devido a um acidente vascular cerebral. A cada 40 segundos alguém tem um AVC e a cada 4 minutos alguém morre devido a esta doença. Sendo que todos os anos, mais de 795.000 pessoas nos Estados Unidos sofrem um derrame cerebral. Neste país o AVC é a principal causa de incapacidade grave a longo prazo e reduz a mobilidade em mais de metade dos sobreviventes com 65 anos ou mais.
Em Portugal, apesar de se ter verificado, na última década, uma redução na mortalidade por AVC este continua a ser a principal causa de morte e incapacidade permanente. Por hora, 3 portugueses são vítimas de AVC. Um deles não sobrevive e, dos restantes, metade ficará com sequelas incapacitantes. Por ano, em cada 1000 habitantes, 2 sofrem um AVC, sendo que cerca de 30% desses doentes acabam por morrer e cerca de 40% ficam incapacitados.
Em 2019 o INEM registou, até ao dia 27 de outubro, 3.456 casos de AVC, tendo sido encaminhados para a Via Verde AVC, uma média de 11 casos por dia. Os distritos de Porto e Lisboa registaram o maior número destes encaminhamentos, com 819 e 702 casos, respetivamente. Estes números são semelhantes aos de anos anteriores, existindo um ligeiro aumento de casos comparativamente aos anos anteriores. Isto levanta preocupações e a necessidade de trabalhar mais junto da população de forma a prevenir a doença e a promover hábitos de vida saudáveis.
É também essencial instruir as pessoas de forma a conseguirem detetar rapidamente sinais e sintomas de um AVC de forma a garantir um rápido socorro, para que seja possível um aumento na eficácia dos tratamentos disponíveis.
O Acidente Vascular Cerebral (AVC), também usualmente conhecido por trombose cerebral, é um défice neurológico súbito e acontece quando o fornecimento de sangue para uma parte do cérebro é impedido ou reduzido, devido a um bloqueio (isquémico) ou a um rompimento de uma artéria cerebral (hemorrágico).
Quando o acidente acontece, o sangue deixa de fluir para uma determinada parte do cérebro danificando as células cerebrais – os neurónios. Estas células são o principal constituinte do cérebro e para viverem necessitam do aporte continuo de oxigénio e nutrientes. O transporte de oxigénio e nutrientes é realizado através do sangue arterial que utiliza as artérias como meio de transporte. Quando esse aporte é inexistente ou ineficaz, os neurónios começam a morrer. E dependendo da zona do cérebro afetada podem surgir diferentes sintomas e causar diferentes sequelas.
O cérebro é dividido em 2 hemisférios (esquerdo e direito), sendo estes também dividido em partes que ativam determinadas funções como a de falar, mobilizar os diferentes membros, raciocinar, memorizar, entre todas as outras. Aliás, o nosso cérebro comanda todas as nossas funções enquanto seres humanos. Por isso quando estamos perante uma suspeita de AVC estamos perante uma emergência médica que exige uma atuação rápida.
Existem dois tipos de AVC:
Cerca de 87% de todos os acidentes vasculares cerebrais são isquémicos, sendo a aterosclerose uma das principais causas destes acidentes. Já os AVC de origem hemorrágica são menos frequentes e geralmente ocorrem pelo enfraquecimento das artérias provocadas pela tensão arterial alta (hipertensão arterial).
Existe ainda um acidente vascular cerebral chamado de AIT – Acidente isquémico transitório. Neste tipo de acidente também conhecido como “mini-AVC” ou “AVC de aviso”, existe um bloqueio temporário de uma artéria cerebral por um pequeno coágulo, mas que é resolvido espontaneamente. Os sintomas do AIT geralmente duram menos de uma hora, podendo durar apenas alguns minutos. Estes “mini” acidentes são um aviso importante de que um AVC mais grave pode ocorrer em breve. Constituem na mesma uma emergência médica devendo ser ativado o pré-hospitalar – 112.
Os efeitos do AVC são diferentes para cada pessoa. Eles podem ser leves, moderados ou graves. A gravidade depende de fatores como:
Existem os sinais mais comuns de AVC (Sinais de Alerta – 3F’), que são os mais prováveis de serem causados por este tipo de acidente do que qualquer outra patologia e onde são avaliados a Força, Face e Fala:
Perante estes sinais deve-se:
É importante ressalvar que nem todas as vítimas de AVC irão apresentar todos os sinais de alarme. Se for percebido qualquer um deles deve ligar 112 rapidamente. Não perca tempo.
Existem ainda alguns sinais adicionais de AVC que são menos comuns, mas também merecem toda a atenção:
A rápida assistência, o encaminhamento para a unidade de saúde adequada e a intervenção médica especializada são vitais para o sucesso do tratamento e posterior recuperação do doente.
Se for assistido nas primeiras horas após o início dos primeiros sintomas, o doente pode reverter totalmente ou parcialmente os danos causados pelo AVC. Os tratamentos utilizados são tanto mais eficazes e seguros quanto mais cedo forem realizados. E a perda de tempo significa menor probabilidade de recuperação. Tempo é cérebro. Os tratamentos consistem na tentativa de desobstrução da artéria que está obstruída e impede a passagem do sangue.
Num primeiro momento é realizado um tratamento fibrinolítico – trombólise, em que é administrado por via intravenosa um fármaco (fibrinolítico) que vai desfazer o trombo. No caso de não resultar, existe uma intervenção mais invasiva, endovascular, em que o trombo é retirado da artéria por meios mecânicos (trombectomia mecânica).
Em alguns doentes basta o primeiro tratamento (trombólise), noutros doentes é necessário a trombólise seguida da trombectomia e em casos em que a trombólise é contra-indicada é apensa implementada a trombectomia.
Em Portugal, em 2006 foi criada a chamada Via Verde AVC. Esta Via permite que, ao ligar para o 112, e ao descrever os sinais de alerta, a chamada seja imediatamente encaminhada para o CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes) que vai identificar, através de questões, um provável AVC, ativando a Via Verde. Com a Via Verde AVC, o doente é imediatamente encaminhado para o hospital de referência, capaz de responder a estas situações e que já está à espera da vítima, permitindo que o tempo de espera seja o mais reduzido possível. Daí a importância de se ligar 112 sempre que as vítimas de doença súbita apresentem os sinais e sintomas de AVC, de modo a reduzir o número de doentes com esta patologia que recorrem aos hospitais pelos seus próprios meios o que, na maior parte dos casos, atrasa o início do tratamento da doença, reduzindo a sua eficácia.
É de extrema importância, ao ligar 112, transmitir o máximo de informação, como a idade, sexo, os sinais e sintomas que motivaram a chamada, assim como a hora de início desses sintomas.
Desde a data em que esta Via Verde foi criada, 36.962 mil doentes puderam beneficiar de um melhor tratamento.
As sequelas e complicações de um AVC variam conforme a gravidade do acidente, do local do cérebro atingido e do tempo perdido entre o início dos sintomas e a implementação do tratamento adequado. Mais de dois terços dos doentes ficam com sequelas após AVC. Algumas podem ser reversíveis e outras permanentes, podendo ser mais graves ou ligeiras, tendo sempre um impacto na qualidade de vida do doente.
Essas sequelas podem dividir-se em:
Qualquer uma destas complicações vai causar impacto na qualidade de vida do doente, causando na maior parte das vezes alterações na dinâmica familiar, social e de trabalho.
O AVC, predomina mais nos idosos, no entanto pode aparecer em qualquer idade.
A maioria dos riscos de vir a sofrer de um AVC são praticamente os mesmos das doenças cardiovasculares.
No entanto nunca é demais relembrar. Existem os fatores de risco modificáveis: Sedentarismo, obesidade, hipertensão arterial, tabagismo, diabetes mellitus, hipercolosterolemia, fibrilhação auricular e consumo de bebidas alcoólicas. Estes fatores são aqueles que, mediante controlo e tratamento, podem ser minimizados de forma a terem um impacto menos relevante no risco de AVC. Temos ainda, no caso específico das mulheres, em que a contraceção oral e a terapia de reposição hormonal aumentam o risco de AVC.
Por isso, para ajudar a prevenir um AVC deve:
Existem ainda os fatores de risco não modificáveis como os fatores genéticos individuais, a hereditariedade, a idade, raça ou sexo. Estes fatores de risco não são passíveis de qualquer tipo de intervenção sendo, no entanto, menos comuns no total de AVC que surgem diariamente.
Se todos conseguirmos identificar os fatores de risco modificáveis todos temos um papel na prevenção do AVC através da adoção de estilos de vida saudáveis e com o devido controlo de cada um destes fatores de risco.